Hoje quero falar sobre empreendedorismo social, a partir de uma das experiências mais marcantes que vivi durante a faculdade. Eu me formei em Economia e Administração de Empresas pela Bellarmine University, nos Estados Unidos. Lá tive contato com um livro inspirador para quem quer fazer a diferença com empreendedorismo: “O Banqueiro dos Pobres” de Muhammad Yunus, Nobel da Paz. Yunus idealizou o programa de microcrédito para mulheres empreendedoras de baixa renda em Bangladesh e o livro conta essa história.
Trajetória
Yunus recebeu uma bolsa de estudos pelo programa Fullbright para cursar Economia na Universidade de Vanderbilt nos Estados Unidos e a educação transformou sua vida. Ao retornar para Bangladesh passou a lecionar Teoria Econômica na Universidade de Chittagong, mas sempre buscando como usaria da teoria para resolver os problemas reais das pessoas que estavam empobrecidas ao seu redor. Isso porque à época Bangladesh tinha 130 milhões de habitantes e 62% dessa população era analfabeta, com renda per capita de aproximadamente US$ 300.
Em 1976 na vila de Jobra, em Bangladesh, as mulheres enfrentavam um ciclo de miséria no qual os agiotas tinham papel importante. Foi lá que Yunus encontrou uma jovem de 21 anos que, para sobreviver, tinha pegado emprestado com um agiota aproximadamente US$ 0,25, com juros de 10% ao dia. Sufia Begum usava o dinheiro para comprar bambu e fazer tamboretes que, pelo “contrato” com o emprestador só poderiam ser vendidos a ele mesmo, sob um pagamento muito abaixo do valor real.
O “lucro” de Sufia era de US$ 0,02. Sim, dois centavos. As mulheres não conseguiam dar garantias aos bancos e por isso tinham seus pedidos por empréstimos negados, mesmo que fossem quantias baixíssimas, as empurrando para os agiotas. Na mesma vila o bengali encontrou 42 mulheres na mesma situação que Sufia. A partir disso decidiu emprestar seu próprio dinheiro com taxas bancárias normais a elas e começou com pouco: 27 dólares.
Banco para pobres
Yunus recebeu de volta todo o capital investido, com pontualidade. Daí surgiu a ideia de criar um banco para emprestar dinheiro para pessoas pobres. Nasceu assim o Banco Grameen, em Bangladesh, e o sucesso foi tanto que logo houve uma expansão para outros lugares do mundo. O banco continua sendo muito procurado por mulheres: elas são 97% dos 8,4 milhões de beneficiários e a taxa de recuperação é de 98,85%. A ideia inclusive se espalhou por outros países, inclusive desenvolvidos.
Em 2006 Muhammad Yunus foi laureado com o Nobel da Paz e foi em 2008 que ajudei a colocar em prática, dentro da minha universidade, um programa que leva estudantes anualmente para Belize, na América Central, com o objetivo de conhecer de perto os projetos de microcrédito. Na sequência, fui para Malawi, na África, onde fiquei por quatro meses realizando um projeto independente de microcrédito para mulheres, em parceria com uma amiga. Lá efetivamos mais de 30 empréstimos para mulheres empreendedoras com valor médio de US$ 150,00 com o objetivo de ajudá-las a melhorar seus ganhos.
Os negócios sociais
A experiência do Grameen Bank não foi o pontapé do microcrédito apenas, mas para um novo formato de negócios: os negócios sociais — negócios de diversos setores cujo objetivo é solucionar desafios da sociedade enquanto são autossustentáveis financeiramente.
O Grameen Bank foi o ponto de partida não só para o microcrédito, mas para uma nova forma de fazer negócios, replicável em diversos setores: os negócios sociais – pequenas e grandes empresas que, em sua essência, buscam solucionar desafios urgentes da sociedade de maneira financeiramente autossustentável.
No empreendedorismo social os empreendedores procuram gerar transformação em uma comunidade, bairro ou até no país usando metodologias e ferramentas comuns nas empresas. Não estamos falando de uma ONG ou instituição filantrópica, mas sim de um negócio (financeiramente sustentável) que procura gerar valor para a sociedade. O próprio Yunus estabelece 7 princípios do empreendedorismo social, para ler é só clicar aqui.
Quis trazer esse exemplo para lembrar, mais uma vez, que o empreendedorismo pode servir para transformar não só a vida de indivíduos, mas de comunidades inteiras.

